Paisagens em mudança na transição entre a Idade do Ferro e a época romana no Alto Tâmega e Cávado
- Fonte, João
- Alfredo González Ruibal Director
- César Parcero Oubiña Director
- Maria da Conceiçao Lopes Director
Universidade de defensa: Universidade de Santiago de Compostela
Fecha de defensa: 18 de decembro de 2015
- José Manuel Caamaño Gesto Presidente
- Francisco Javier González García Secretario
- Manuel Alberto Fernández Götz Vogal
- Helena Paula Abreu de Carvalho Vogal
- Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabião Vogal
Tipo: Tese
Resumo
O presente estudo centra-se na análise das paisagens de poder que materializam as dinâmicas sociais e territoriais ocorridas nos finais da Idade do Ferro e inícios de época Romana no Noroeste Peninsular. Enquadra-se numa necessidade de se desenvolverem novas e inovadoras metodologias de trabalho, aliadas a uma robustez teórica e a um rigor empírico, cujas interpretações permitam a criação de um novo conhecimento e que tenha aplicabilidade a outros contextos. Esta investigação foi desenvolvida numa óptica da Arqueologia da Paisagem. Assim, adoptou-se uma perspectiva diacrónica e uma metodologia interdisciplinar, procurando-se ampliar as metodologias tradicionalmente utilizadas neste tipo de estudos, sobretudo com o recurso às tecnologias geoespaciais, na tentativa de se caracterizar a estruturação do povoamento e território neste período e área geográfica. O objectivo principal deste estudo reside na tentativa de caracterização sociopolítica das comunidades do Noroeste Peninsular, particularmente na sua área Meridional, nos finais da Idade do Ferro e inícios de época Romana. Tomaremos como caso de estudo a região do Alto Tâmega e Cávado. Trata-se de uma zona de fronteira e de hibridização cultural pelo menos desde a Idade do Ferro, localizando-se justamente na transição entre a área dos oppida ocidentais e a dos pequenos castros orientais. Nesta zona registam-se processos de intensificação económica, embora mais centrados na exploração de recursos minerais, ao invés da exploração e intensificação agrícola, dando lugar a uma estruturação territorial bastante específica e a formas particulares de expressão da desigualdade. Procuraremos analisar as dinâmicas territoriais e os processos de continuidade e de mudança social, bem como as diferentes economias políticas e estratégias de poder, numa época onde têm lugar complexas políticas de interacção cultural, particularmente com o mundo mediterrânico, bem como uma crescente negociação social e identitária. Procuraremos definir e clarificar os diferentes modelos de povoamento e as diferentes formas de estruturação territorial em época pré-Romana e Romana. A base fundamental deste trabalho será a objectivação dos critérios locacionais e territoriais de cada povoado, com vista a se discriminarem as decisões sociais que motivaram a eleição de um determinado sítio, já que distintos modelos locacionais e territoriais poderão associar-se a diferentes contextos culturais e a distintas formas de organização territorial e sociopolítica. Todavia, será de ressaltar que este trabalho terá sempre um sentido comparativo, procurando-se analisar a variabilidade, mais do que uma reconstrução positiva das condições que possam ter influenciado a localização dos sítios. Além disso, partimos da diversidade regional e da heterogeneidade cultural, já que mais que um todo homogéneo com uma evolução unilinear, devemos antes, segundo uma perspectiva pós-colonial, contemplar uma multiplicidade de experiências históricas particulares a diferentes escalas antes e depois da chegada de Roma. Após os primeiros contactos com os Romanos, documenta-se uma estruturação complexa do povoamento do Noroeste, que se manifesta no pleno desenvolvimento de grandes povoados tipo oppidum, que actuariam como verdadeiros lugares centrais do ponto de vista político. Este fenómeno, que se desenvolve anteriormente à criação generalizada de novos assentamentos romanos, é arqueologicamente mais visível na parte Meridional da Galiza e no Norte de Portugal, onde os processos de ¿oppidização¿ são mais massivos e prematuros. Contudo, este processo de sinecismo e de hierarquização do povoamento poderá ser consequência de dinâmicas anteriores, uma vez que não podemos negligenciar os complexos particularismos históricos das comunidades indígenas, tal como parece suceder em outros territórios europeus. Evidentemente que o contacto e a pressão Romana pode ter acelerado e precipitado todo este processo, embora talvez não se tenha tratado de um processo unidireccional e monocausal. É necessário percepcionar os oppida em relação estrutural a toda uma série de fenómenos sociais, políticos e culturais que ocorrem no sul da Callaecia entre os séculos II a.C. e I d.C..